O
Mestre Fernando Sabino, que morreu na véspera do Dia das Crianças, disse: “Quando
me perguntam o que eu queria ser, digo que queria ser menino.” Temos esse sonho
impossível de voltar a ser criança e, quem sabe, tenhamos um coração criança...
Lembro
agora uma passagem do meu tempo de menino (eu deveria ter 9 ou 10 anos de
idade): perto da minha casa, na mesma rua Cel. Austriclínio, em Palmares-PE,
havia um grande supermercado... Certo dia, eu ia passando quase em frente a ele
e observei um caminhão carregado de laranjas parado, vi que
carregadores/descarregadores de caminhão do local estavam “tirando” aquelas
frutas pelas brechas da grade da carroceria. Isso não era correto, no entanto me
deu uma vontade de pegar pelo menos uma: ora, se eles podiam, achei que eu também
iria conseguir. Desconfiado, aproximei-me da grade da carroceria e comecei a
tentar, mas aquele braço mago, de menino amarelo, não tinha força suficiente,
desanimei. Quando ia desistindo, apareceu, de súbito, um homem. Não me recordo
exatamente das palavras: disse que achava que eu não iria conseguir e
resolveu-me ajudar. Danou a mão por entre a grade, pegou três laranjas e me entregou:
— Obrigado!
— De nada.
Sorrindo
fui atravessar a rua, com um sorriso escancarado, e tomei um susto: aquele homem
que tirou as laranjas para mim era o motorista do caminhão.
Fui
pra casa pensativo. Por que o homem não me repreendeu? E ainda foi generoso,
deu-me três laranjas. Já estava em sua hora de sair...
Hoje,
compreendo que, antes de repreender uma criança, o melhor é protegê-la e ter
sensibilidade de provar a ela um sentimento pelas boas ações. Quem sabe,
provocar nela um sorriso, para uma melhoria do mundo.
Uma
maneira de salvar o mundo é dar amor às crianças e facilitar de todas as formas
para que elas interajam numa linda e doce brincadeira.
João Lover
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