Revisão de texto Coerência e coesão Escrever: técnica e arte

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Livro imprescindível aos(às) profissionais do texto: escritor(a), revisor(a), professor(a), jornalista, jurista...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Laranjas de menino


O Mestre Fernando Sabino, que morreu na véspera do Dia das Crianças, disse: “Quando me perguntam o que eu queria ser, digo que queria ser menino.” Temos esse sonho impossível de voltar a ser criança e, quem sabe, tenhamos um coração criança...

Lembro agora uma passagem do meu tempo de menino (eu deveria ter 9 ou 10 anos de idade): perto da minha casa, na mesma rua Cel. Austriclínio, em Palmares-PE, havia um grande supermercado... Certo dia, eu ia passando quase em frente a ele e observei um caminhão carregado de laranjas parado, vi que carregadores/descarregadores de caminhão do local estavam “tirando” aquelas frutas pelas brechas da grade da carroceria. Isso não era correto, no entanto me deu uma vontade de pegar pelo menos uma: ora, se eles podiam, achei que eu também iria conseguir. Desconfiado, aproximei-me da grade da carroceria e comecei a tentar, mas aquele braço mago, de menino amarelo, não tinha força suficiente, desanimei. Quando ia desistindo, apareceu, de súbito, um homem. Não me recordo exatamente das palavras: disse que achava que eu não iria conseguir e resolveu-me ajudar. Danou a mão por entre a grade, pegou três laranjas e me entregou:

            — Obrigado!
            — De nada.

Sorrindo fui atravessar a rua, com um sorriso escancarado, e tomei um susto: aquele homem que tirou as laranjas para mim era o motorista do caminhão.

Fui pra casa pensativo. Por que o homem não me repreendeu? E ainda foi generoso, deu-me três laranjas. Já estava em sua hora de sair...

Hoje, compreendo que, antes de repreender uma criança, o melhor é protegê-la e ter sensibilidade de provar a ela um sentimento pelas boas ações. Quem sabe, provocar nela um sorriso, para uma melhoria do mundo.

Uma maneira de salvar o mundo é dar amor às crianças e facilitar de todas as formas para que elas interajam numa linda e doce brincadeira.
    João Lover

sábado, 18 de maio de 2013

Dica da Língua Portuguesa nº 14: RISCO DE VIDA

Qual é o gramaticalmente correto?

Risco de vida? 
Risco de morte?

A Jornalista Sandra Annenberg, apresentadora do Jornal Hoje (Rede Globo), pronunciou há 3 ou 4 dias: "A criança não corre risco de vida."

Concordo com a jornalista. Existe discussão sobre essas expressões. Observam-se jornalistas e outros comunicadores dizerem: "risco de morte". Na verdade, estão confundindo "risco de morte" com RISCO DE MORRER (expressão correta). 

Se buscarmos a lógica, veremos que risco de morte não existe, porque quem está morto não corre risco algum. Quando falamos "risco de vida", estamos simplesmente afirmando que a vida está em risco.

Pouca gente fala na ambiguidade sintática. Vamos classificar sintaticamente as locuções "de vida" e "de morte". Podemos classificar apenas uma delas como adjunto adnominal (determinante do nome), o que representa um tipo de risco. Se tentarmos classificar "de morte" como complemento nominal, não é possível uma vez que não possui valor passivo (a morte sofrer o risco?); e, se pensarmos em classificá-la como adjunto adnominal, não podemos: a indicação de posse é descartada (o risco pertencer à morte?). Portanto, conforme o sistema da língua portuguesa, declaro que simplesmente NÃO é concebível a expressão "risco de morte".

Em relação à expressão "risco de vida", a locução "de vida" podemos classificar como adjunto adnominal, ou seja, o risco pertence à vida desde que nascemos.

Então, podemos dizer: RISCO DE VIDA e também RISCO DE MORRER. E, "de vida",  acredito que seja adjunto adnominal (aí está a ambiguidade sintática, pois alguém pode dizer que é um complemento nominal); e, "de morrer" é uma oração subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo: funciona como complemento nominal da palavra "risco", isto é, risco de que a morte aconteça (sublinhei a oração, nesse caso, desenvolvida).

   João Lover

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Dica da Língua Portuguesa nº 13: Erro do Jornal Nacional (Rede Globo, 03/05/2013)


Neste dia 03 de maio, veja a frase pronunciada pela Jornalista Patrícia Poeta, no final do noticiário da matéria que se refere a um TROTE feito por meio do telefone 190:

“A justiça pode pedir o ressarcimento do prejuízo aos cofres públicos.” (frase errada em relação ao contexto).

Do modo como foi veiculada a notícia, tecnicamente, é possível pedir aos cofres públicos o ressarcimento, isto é, os cofres públicos vão ressarcir em vez de serem ressarcidos.
              
O fato é que esse referido trote mobilizou muita gente numa grande operação, que envolveu Polícia, Corpo de Bombeiros e funcionários da concessionária de uma estrada e causou um prejuízo de aproximadamente R$ 20.000,00. Foram desperdiçadas algumas horas de trabalho segundo o Jornal Nacional.

Como o erário sofreu o prejuízo, vamos à frase dita de forma coerente:

A justiça pode pedir que os cofres públicos sejam ressarcidos dos prejuízos pelo cidadão responsável.